sexta-feira, 4 de março de 2011


...Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões...” –Manoel de Barros


JUSTIÇA NO FORMIGUEIRO


Uma formiga bem bunduda e preta,
sentadinha num caroço de pipoca
seguia carregada, a rainha ninfeta
da infância feliz que por hora evoca.

Um menino indgnado com a tirania,
se achando um rei no seu quintal,
soprou, como uma forte ventania,
achando a cena um exemplo do mal.

Caos instalado á porta do formigueiro.
Ouvia-se a fúria titânica dos soldados,
Visível a expressão de todos indignados
e o menino se achava um justiceiro.

Todas elas sobreviveram ao furacão,
com brio ferido, a rainha destronada,
talvez tenha aprendido uma boa lição
de um menino que não sabia de nada.

Sérgio Brandão, 03.03.11

“...O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas...”
-Manoel de Barros

PASSARINHOS NO RELÓGIO

Hoje alimentei os doze pássarinhos
estampados no relógio da parede;
disse coisas engraçadas e fiz carinhos
agregando-os á este mundo em rede.

Toda imagem carrega a vida e a doçura
onde águas de lembranças causam sede.
Mal -entendidas, a morte e a amargura
são conhecidas por quem lá já esteve.

Por isso alimento os doze passarinhos,
para não perdê-los em nenhuma hora.
Para que nunca abandonem seus ninhos
no peito de quem rí e de quem chora.

Se antes eu os prendia, estão soltos agora
em gravuras que envelhecem como vinhos.
Têm um canto que encanta de hora em hora,
onde ventos alísios... nunca movem moinhos.

Sérgio Brandão.04.03.11.